"Woke triste vida a nossa" in Diabo
"Woke triste vida a nossa..."
Como dizia Ortega y Gasset, "o homem-massa não quer viver à altura de si mesmo, quer viver à custa do Estado". Hoje este homem-massa pede desculpas por piadas, por livros e até por estátuas. Reescreve o passado com a mesma arrogância com que um déspota apaga os seus adversários da memória colectiva.
“Quem controla o presente, controla o passado. Quem controla o passado, controla o futuro”, escreveu Orwell.
É tempo de recusar a liturgia dos ofendidos profissionais e rasgar o véu moralista que encobre o vazio ideológico. Como disse Chesterton, "quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em qualquer coisa". E o "qualquer coisa" de hoje é o wokísmo: essa religião dogmática sem transcendência.
Aos que ainda prezam a liberdade, resta lembrar que nenhuma civilização cai de fora para dentro; é, invariavelmente, um apodrecimento interno. Cada pedido de desculpa a esta nova ortodoxia é mais um tijolo retirado da muralha da nossa própria cultura.
Entre os dramas do nosso tempo, destaca-se a dramática Esquerda que já não se contenta com a disputa de ideias, mas a que almeja redesenhar a própria realidade. Aquela que reduz a história a panfletos e que converte a arte em ferramentas de propaganda. Assistamos não à emancipação do espírito humano, mas à sua amputação.
Recordando Pascal: "O homem ultrapassa infinitamente o homem". Mas para os sacerdotes da nova fé woke, o homem deve pedir desculpa por existir, ajoelhar-se perante uma contabilidade imaginária de privilégios e renegar qualquer grandeza que ouse afirmar-se. Suportemos a mediocridade (essa que nada ultrapassa), não como um defeito, mas agora como uma condição moral suprema.
E, no entanto, esta utopia de plástico não passa de uma tirania disfarçada. É o niilismo erguido em bandeira, pintado com cores vibrantes para mascarar o cinzento da servidão dos cidadãos convertidos em súbditos "livres".
Nietzsche quis avisar-nos: “Quem combate monstros deve cuidar para não se tornar, ele próprio, num monstro”. Mas a esquerda, ao invés de os combater fabrica-os. Precisa de um inimigo permanente (inventado ou não) que justifique a respiração desta máquina moralista.
E enquanto o cidadão comum se distrai com slogans sobre igualdade e justiça social, o que avança silenciosamente é a uniformidade do pensamento, a colonização da linguagem e o policiamento das mentes.
Estaremos nós a ser transformados em peças intercambiáveis, obedientes e niveladas? Num rebanho dócil, governado por pastores de hashtags? Quem já leu Cícero sabe que "a liberdade é a possibilidade de viver como se quer" e não como a turba exige.
Chegará o momento em que será preciso escolher entre permanecer no conforto do silêncio, ou recuperar (pelo menos tentar) o risco da palavra livre. Porque o wokísmo já não é só uma moda, é um sintoma. E um corpo que não reage ao veneno já começou a morrer.
Filipe Carvalho