Virtuosamente VOL.7 - Bebés Reborn: A Fantasia da Carne Plástica
Bebés Reborn: A Fantasia da Carne Plástica
" Quando se apaga o símbolo, resta o fetiche."
Roger Scruton
O amor maternal, que outrora era instintivo, biológico, quase sagrado, deu lugar a uma espécie de performance afectiva deveras estéril. Os bebés reborn, conhecidos como réplicas hiper-realistas de recém-nascidos, embalados e vestidos por mulheres adultas, surgem como um espelho cruel do nosso colapso civilizacional. Uma "Dantesca" ilustração do delírio emocional da modernidade líquida.
A cultura contemporânea, parida pelo niilismo sentimental, encontrou nos bebés reborn um artefacto ideal: a simulação do amor sem o risco deste: a ternura sem entrega, um "filho bebé" sem a maravilhosa responsabilidade que isso acarrecta. Usando a sabedoria popular: será legítimo taparmos o Sol da esterilidade com a peneira plastificada de um boneco de silicone?
Nas vitrines digitais deste Ocidente exausto, exibem-se estas réplicas de vinil como ícones pós-humanos, numa estética que mistura o grotesco com patético. Se, outrora, as feministas do passado queimavam sutiãs em topless e chocavam em praça pública , agora vemos senhoras, que reivindicam o seu direito biológico da maternidade acariciando bonecas em rituais domésticos de autocomiseração.
Se quisermos manter a lucidez, devemos rejeitar este fenómeno não como um capricho excêntrico, mas como um sintoma de uma cultura sem filhos, que transforma a maternidade num hobby. O bebé reborn é o ídolo de uma era pós-natalista, numa sociedade onde se abomina o "macho tóxico", mas que celebra a mulher que adopta bonecas em vez de gerar crianças. Se o aborto é saudado como libertação, então renunciemos a este simulacro da maternidade.
“A realidade é intolerável para os que vivem sem raízes.”
Eric Zemmour
Aceitarmos com naturalidade o fenómeno dos bebés reborn é aceitar, por extensão, toda a agenda que desnaturaliza a vida humana. Trata-se, enfim, de mais um passo rumo ao transumanismo emocional: aquele em que o que é real é descartado e o artificial é adorado. E, se para alguns este brinquedo passa por fins terapêuticos, para outros, é (sem hesitação) idolatria do afecto desconectado da vida real. É o útero sem dor, o colo sem pranto, o filho que não cresce; no fundo é exactamente como o homem moderno: eterno adolescente, eterno carente, eterno estéril.
"A decadência começa quando o homem se recusa a perpetuar-se."
Dominique Venner
Os bebés reborn, esses cadáveres estéticos do instinto maternal, são apenas a face visível de uma mutação civilizacional profunda: a morte programada do conceito de família.
A civilização, como bem sabiam os gregos, começa no sangue e termina na sua negação. Nenhuma sociedade sobrevive ao colapso da família, nem se mantém coeso depois de negar o princípio básico da transmissão: pai, mãe, filhos; bem como o dever de continuidade.
O feminismo contemporâneo, com o seu ressentimento de matriz marxista, reduziu a mulher ao que ela dizia propôr-se a combater: diminuir-se a uma consumidora de afecto e prestadora de serviços para o capital. Esta mulher "empoderada" (como lhe chamam), trabalha numa empresa que não a ama, envelhece numa solidão dourada com gatos e bonecas hiper-realistas, e repete mantras sobre "empoderamento libertário" como uma Guru de uma seita que a "escraviza" em prol de objectivos e dividendos.
"A mulher foi enganada: trocou a tirania do lar pelo totalitarismo do mercado."
Guillaume Faye
A fertilidade , não apenas como função biológica, mas (se quisermos) como vocação cósmica, foi abandonada em nome de uma autonomia que só produz nulidade ontológica. Os povos que deixam de ter filhos desaparecem como sonhos nunca realizados, como histórias abortadas.
Enquanto isso, nas periferias do mundo, homens e mulheres que ainda conhecem o peso da tribo e o valor da descendência procriam com fervor quase religioso. Isto é, sabem que quem controla o ventre controla o futuro e sabem que a história pertence aos férteis.
"O futuro pertence aos que se apresentam."
René Guénon
A Europa, no seu sentido épico, construiu catedrais, impérios e universos simbólicos inigualáveis. Hoje, no sentido mais trágico e decadente, embala bonecas em berços de veludo ao que intitula de "resiliência emocional". O útero tornou-se um oco cenário, o lar, deu lugar a um estúdio de gravações e a maternidade, uma performance projectiva.
Com as eternas ladainhas do "viver um dia de cada vez" e do carpe diem, arriscamos a viver entre o " agora e o nada", participando neste espetáculo terminal da civilização.
"A decadência começa quando o homem se recusa a perpetuar-se."
Dominique Venner
Filipe Carvalho