VIRTUOSAMENTE vol.5
O Racismo Sistémico como falsa questão: Uma perspectiva crítica
A obsessão contemporânea com o chamado "racismo sistémico" tornou-se não apenas num reflexo automático da intelligentsia progressista, mas também num sintoma revelador de um declínio civilizacional mais profundo: o abandono da racionalidade crítica em favor de uma metafísica da culpa e de uma ontologia do ressentimento. Importado com zelo missionário do vocabulário racial americano, o conceito de racismo sistémico opera, no discurso público europeu e particularmente em Portugal, como um dispositivo ideológico, e não como uma descrição rigorosa da realidade.
No discurso racialista contemporâneo, a raça é simultaneamente negada enquanto realidade biológica, mas afirmada com intensidade quase metafísica enquanto identidade vivida. Esta contradição revela o carácter dogmático do anti-racismo militante, que deixou há muito de se limitar à denúncia de práticas discriminatórias concretas para se transformar num sistema de pensamento totalizante, onde toda a diferença estatística entre grupos étnicos é automaticamente interpretada como produto de opressão.
Como advertiu Alain de Benoist, figura maior da Nouvelle Droite francesa, "a ideologia anti-racista acaba por reproduzir o racialismo sob a forma da culpabilização sistemática dos europeus e da vitimização perpétua dos outros."
A noção de "racismo sistémico" é, na sua génese, um delirante instrumento de guerra cultural, não uma categoria descritiva. Parte do princípio ( pressupostamente), de que as instituições ocidentais estão estruturalmente contaminadas pela lógica da exclusão racial. Contudo, esta narrativa ignora que, na Europa, as constituições, as leis e os princípios jurídicos consagram há décadas a igualdade formal entre os cidadãos, sem qualquer referência à raça.
Em Portugal, por exemplo, não há qualquer indício de que o sistema judicial, educativo ou político funcione segundo critérios raciais, antes pelo contrário. O Estado português nem sequer recolhe dados étnico-raciais oficiais. Falar de "racismo sistémico" é, assim, atribuir à estrutura um pecado invisível e falacioso.
A direita filosófica e identitária, desde Dominique Venner a Guillaume Faye, tem criticado com lucidez o uso do anti-racismo como arma de deslegitimação da civilização europeia. Ao colocar o europeu nativo como opressor estrutural, independentemente da sua ação individual, cria-se uma cultura de culpa e autonegação, minando assim o sentido de pertença, destruindo a coesão social e impedindo qualquer forma de orgulho cultural legítimo.
Curiosamente, os defensores da teoria do racismo sistémico ignoram um dado sociológico elementar: os verdadeiros centros de poder cultural e institucional adoptaram já essa narrativa como ortodoxia. Universidades, meios de comunicação, organismos estatais e corporações multinacionais integram o anti-racismo militante como dogma oficial.
Inegavelmente e, diante de uma inversão perversa, a narrativa da opressão é promovida pelos próprios detentores do poder, enquanto os dissidentes são tratados como marginais ou extremistas. Esta é a verdadeira estrutura de dominação ideológica contemporânea, como bem diagnosticou Jean-Yves Le Gallou, outro pensador da Nova Direita, ao falar de "ditadura do emocional e do politicamente correto".
A direita filosófica europeia, representada por alguns autores como Alain de Benoist, Guillaume Faye ou Renaud Camus, propõe uma reconstrução cultural baseada em pertença, continuidade histórica e lucidez crítica. Contra o império do ressentimento e da abstração ideológica, é preciso restaurar o real, a experiência concreta e o enraizamento.
Referências bibliográficas:
Benoist, A. de (2006). Vu de droite. Éditions du Labyrinthe.
Faye, G. (2000). Pourquoi nous combattons: manifeste de la Résistance européenne.
Le Gallou, J.-Y. (2011). La Tyrannie médiatique.
Venner, D. (2013). Un samouraï d’Occident.
Camus, R. (2012). Le Grand Remplacement.
Onfray, M. (2021). L’Art d’être Français.
Scruton, R. (2015). Fools, Frauds and Firebrands: Thinkers of the New Left.
O Homem Infantil e a Crise da Virilidade: Um Ensaio à Luz de Nietzsche
Na passadeira da modernidade líquida, como a nomearia Zygmunt Bauman, encontramos uma figura que se alastra como peste moral: o homem infantil. Esta criatura, travestida de adulto pelas convenções cronológicas, é, na essência, um órfão de si mesmo. E é Nietzsche, com profecias intempestivas, quem nos fornece as chaves para decifrar tal decadência.
No Assim falou Zaratustra, Nietzsche descreve três metamorfoses do espírito: o camelo, o leão e, por fim, a criança. Mas a criança nietzschiana - atenção aqui - não é a criança mimada da pós-modernidade, mas sim o espírito criador, o que se "agarra à vida" . O homem infantil, predominante hoje nas cidades, é uma caricatura degenerada dessa criança que Nietzsche defendia. Não é criador, é consumidor compulsivo e não lhe cabe a inocência, mas o cinismo da farda de "vítima da sociedade".
A sociedade moderna, embebida de igualitarismo e relativismo forjou um novo tipo de homem: aquele que recusa o fardo da responsabilidade em nome do prazer imediato e efémero. O homem infantil apoia-se no niilismo passivo denunciado por Nietzsche, naquele que ri jocozamente de quem busca algo maior.
Nietzsche, na sua denúncia dos valores do rebanho, anteviu o infantiloide que não deseja ultrapassar-se a si mesmo, mas apenas aquele que pretende permanecer eternamente confortável. Não se arrisca, mas também não constrói, no fundo, qualquer "luta" que requeira coragem e sacrifício, sendo que destes dois últimos advém dor; saibamos que o homem infantil é intolerante à dor.
Este homem de traços "acriançados" de que temos falado, contamina as nossas comuns esferas: na política, onde deseja líderes que lhe prometam segurança emocional; na cultura, onde exige representações que não o desafiem o bastante para ser livre; no amor, onde busca o vazio conforto narcísico e foge da tragédia do compromisso. É um ser castrado de vontade, narcotizado de uma autoestima de "plástico", incapaz de formar legado, sendo que sequer compreende o que é linhagem.
É preciso restaurar a virilidade espiritual, não como caricatura agressiva, mas como consciência de missão.
Como disse Nietzsche: "Torna-te em quem tu és." Vergonhoso, então, tornares-te, tu homem contemporâneo, apenas num menino que aguarda um delicioso rebuçado.
O Patriarcado e o Espírito da Forma: Nietzsche como Crítico da Decadência
A palavra "patriarcado" tornou-se, nos discursos dos nossos dias, um espantalho sem nuance, um símbolo de opressão inventado por ideólogos que jamais compreenderam o que significa o peso do mundo. Para o sociólogo que se recusa a ajoelhar-se diante da moral ressentida dos nossos tempos, impõe-se a tarefa de recuperar o sentido ontológico e civilizacional do patriarcado. Vejamos, não como sistema de dominação, mas como uma estrutura de forma, como fundamento simbólico da cultura ocidental. E é Nietzsche, paradoxalmente tão deturpado pelos progressistas, quem nos oferece a mais lúcida crítica à dissolução dessa estrutura de que falamos.
Em Nietzsche a palavra "patriarcado" não surge, mas encontramos na sua filosofia uma denúncia da feminilização do espírito. Este, mostra-la como parte do processo de niilismo passivo e da decadência da vontade.
No Genealogia da Moral, Nietzsche traça a origem dos valores ressentidos que, posteriormente, dariam voz às revoluções igualitárias e antiautoritárias. A moral do escravo, revestida de piedade e "inclusão", é essencialmente a revolta contra o pai simbólico, contra o princípio ordenador, contra o logos masculino que põe limites à vontade caprichosa do desejo. E aqui é que está o ponto: o patriarcado é antes de tudo a instauração de um princípio de forma sobre o caos; é o nome dado à civilização quando esta assume o fardo de crescer, lutar e transmitir valores.
O patriarcado, na crítica nietzschiana, não é uma opressão histórica, será antes, uma resposta evolutiva à necessidade de preservar a coesão social, a transmissão intergeracional e o domínio racional sobre os instintos. Não será coincidência que, nas sociedades onde o patriarcado foi mais sólido, tenha emergido a filosofia, a ciência, o direito e a arte.
Nietzsche anteviu com precisão esse movimento: o enfraquecimento do espírito nobre, a vulgarização das paixões, o triunfo do último homem, que "pisca os olhos e diz: inventámos a felicidade". Este último vive num mundo onde o pai foi destituído de sua função simbólica, onde a figura paterna é ridicularizada, emasculada, tornada obsoleta.
Recuperar o patriarcado, portanto, não é um retrocesso, mas um acto de coragem civilizacional. Nietzsche, apesar de crítico das convenções, jamais se alinhou à utopia igualitária. Ideólogo da superação, da hierarquia de espíritos, do culto à grandeza; retrata a ordem viril do mundo não como uma tirania; mas como uma condição de possibilidade da liberdade superior.
Referências bibliográficas
Nietzsche, Friedrich. Genealogia da Moral: Companhia das Letras, 2009.
Nietzsche, Friedrich. A Vontade de Potência: Companhia das Letras, 2011.
Nietzsche, Friedrich. O Anticristo: Companhia das Letras, 2006
Roger Scruton. As Vantagens do Pessimismo: E o Perigo da Falsa Esperança: Record, 2013.
Theodore Dalrymple. Podres de Mimados: As Consequências do Sentimentalismo Tóxico: É Realizações, 2011.
Camille Paglia. Sexual Personae: Art and Decadence from Nefertiti to Emily Dickinson: Vintage, 1991.
Allan Bloom. O Declínio da Cultura Ocidental: É Realizações, 2006.
Oswald Spengler. O Declínio do Ocidente. Lisboa: Presença, 1994.
Jordan Peterson. 12 Regras para a Vida: Um Antídoto para o Caos: Alta Books, 2018.
Robert Bly. O Homem em Busca de Sentido: A Redescoberta da Masculinidade: Cultrix, 1991.